Pontas, Quinas e Beiradas

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Tchau

Certo dia me pediu que lhe escrevesse algo
Para dizer o que sentia sobre te-la comigo
Como poderia faze-lo se pouco a tive?
Entreguei-me por pouco tempo
Caminhei com ela de mãos dadas
Fiz com que me xingasse
Com que me esperasse
Me acompanhasse
Mas logo depois parti.
- Fui-me -
Lembro-me ainda de seus olhos
Que ficaram registrados em fotos
-Mas não preciso ve-las para lembrar-
Lembro-me do cabelo dela desgrenhado e caindo pelas costas
Com aquela cara amassada de quem nem dormira direito
O fogo ainda estalava na lareira
As garrafas e copos ainda estavam pelo chão
E ela tambem se preparava para partir
-Me largaria ali-
Passou o tempo
E me fui de vez
Mas antes de partir
Nem deu tempo de prometer nada
Nem me despedir.
Hoje ela caminha
Enfrenta seus dragões
E só o que me restou
Foram suas fotos
E as emoções
-lamentações talvez-
Do pouco tempo que passei.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Lascas de carinho

Chego em casa e já me deparo com aqueles degraus de madeira
Lascados pela ponta do salto dela.
Abro a porta e já me jogo no sofá
Meu copo de vodca ainda está lá
Sobre a mesa
Manchando o vidro.
Se ela estivesse aqui
Já teria me gritado
Quebrado meu copo.
Desabotoei a calça que já está apertada
Só por que ela não está mais aqui.
As meias, deixei jogadas no canto da sala
E prendi o velho chinelo com um prego.
Se ela estivesse aqui
Já teria me tacado esse chinelo na cabeça
E feito com que eu engolisse as meias.
Não a queria mesmo nessa casa
Não queria ouvi-la passear pelo meu velho piso lascado pelos malditos saltos dos seus sapatos.

Não queria que ela estivesse aqui
Para ressuscitar meu sorriso
Nem para abrir meus olhos foscos e sem brilho.
Mas aquele salto marcando meu assoalho
Me fazia querer beijá-la
puxá-la pelo cabelo
arrastá-la até os primeiros degraus

E furá-la com esses malditos sapatos.

Vulgar

Copos trincados
achados
caídos pelos chão
com marcas de batom.
Restos de cigarros,
bitucas amassadas
-com tanta força que o filtro até soltava-.
Corpos caídos,
bocas manchadas
e o hálito matinal sendo incorporado com a mistura do álcool e da nicotina
Parecia até uma chacina.
corpos amontoados,
nus, semi-nus...
e aquele cheiro de sexo
de transa.
Cheiro dos desconhecidos
desinibidos
tímidos
que se apaixonaram por um momento
e acabaram fodendo,
se comendo.

O som ainda alto
toma conta de todo o ambiente
e essas almas eloquentes
esquecem de sua existência
quando se deixam morrer pelos cantos
vivendo cada um, sua própria demência.

Na ausência diagonal da consciência racional
criaram vidas e momentos
que não deixarão cair no esquecimento
quando acordarem
vestirem as calças
e se afogarem
entre fluídos, beijos, álcool e sexo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Nasci!

Na noite passada, em meio à tempestade
Ao som de raios e trovões
O sono que nao vinha me acompanhar
Ajudou-me a encontrar.
Vasculhando as gavetas
documentos e memórias
Encontrei aquele papel
(Que deveria ser velho mas estava tao conservado)
Que contem a prova de que existo.
e logo eu, que achava que fosse apenas a imaginação de alguém.
Minha certidão,
Minha existência
estava incompleto, mas meu nome estava lá.
Ajudando-me a saber um pouco mais do que realmente sou.
Ali estava apenas meu nome
nao tinha data, nao tinha local, nem quem sao meus pais (se é que tive algum um dia)
Mas eu estava ali!
Um dia
nao importa qual
(nem de quem)
Eu Nasci!
E hoje to aqui!
Sulivan, dessa maneira mesmo!
Redigido, digitado,  datilografado, nao importa. To aqui e existo!
Minhas palavras agora Sao minhas!
nao são delas, nao sao dessa que redige.
São minhas!
Minhas palavras
meus pensamentos
meus erros
meus sentimentos!
Agora...
esqueçam dessa que faz a ponte entre eu e o mundo
Por que agora Eu Sou o Mundo do Meu Mundo.

Ass. Sulivan

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Mais um copo

Vai um copo?
Vai de água, chá, cerveja ou cachaça?
cólera, aids ou cirrose?
vai um copo?
para apoiar na sua mesa
sem toalha
de madeira lascada?
Vai um copo?
daqueles que se vendem em qualquer lojinha
ou num copo de requeijão
extrato de tomate...
Vai um copo?
acompanhado de um cigarro
comprado no varejo
no boteco da esquina?
vai um copo?
de vidro,
de plastico,
descartável,
usado,
lavado,
trincado?
Com marca do batom
daquela que me enganou
e me fez tomar veneno
no copo que comprou
e que deixou bater na pia
estava ate meio trincadinho
mas a água la dentro
reluzia.
E eu não percebia
-que enquanto apreciava seus olhos brilhantes-
o veneno no copo se esvaia.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

F(N)inja

Essa noite corri pra rua
De moleton, de touca, de luva
Nem me importei que tivesse chovendo
Senti aquele vento batendo no meu rosto
Ainda que estivesse agasalhado
O frio tomou conta de mim
senti meu queixo bater
Meus olhos arderem
e minhas mãos, 
Escondidas na luva, 
Ainda sentiam o vento frio.
Voltei pra dentro
bati o portao
peguei meu copo que estava no chao
Por um momento pensei em nao beber
-nunca mais ia beber-
Mas logo essa ideia obsena passou
Peguei a garrafa e virei toda
Bebia em goles longos
Que pareciam rasgar-me a garganta
Esqueci do copo, dos modos...
Acendi um cigarro com fósforo
-Tinha isqueiro mas queria fósforo-
Acendi, traguei e tossi...
Eu nem fumo!
Mas fingi...
Fingi que ia parar de beber
Fingi que ia começar a fumar
nisso tudo eu so fingia
Fingia que queria viver
E fingia que tinha medo de morrer.
Continuei fingindo
E fingi viver fingindo
Se alguem me perguntar
eu to fingindo que gosto de sentir
Eu to fingindo que quero continuar
To fingindo que tento amar.

Banquete

Servi meu coração numa bandeja
Como jamais havia feito em banquete nenhum. 
Pus-me a servir
Ela deliciou-se com cada pedacinho
No final limpou delicadamente o cantinho da boca, 
que parecia ter passado batom vermelho. 
Minha vida misturou-se ao vermelho de sua unha tmbm. 
E enquanto ela lambia os dedos com aquele ar de:
acabou! 
Ela afasta-se da mesa, da um gole rápido no Drink e se retira. 
Com pressa
Vamos ao próximo banquete!

Espuma de sangue

Espuma de Sangue

Foi assim que aconteceu 
Ao passar a mão pelo rosto as mesmas se mancharam com todo o sangue que escorria 
Filetes vermelhos desciam por todo seu corpo e manchavam todo o chão do banheiro. 
Ela deveria se desesperar...
mas não! 
Continuo seu banho 
Até que suas pernas não lhe agüentassem mais. 
E fizessem seu corpo esbelto, bem contornado bater no chão
Molhado
Ensaboado.
E até quando aquele espelho embaçado
Ficaria daquele jeito?
E as marcas de seus dedos no vidro do box...

...Sumiriam?

E o trema... morreu???

E o trema... morreu???
E a crase, e o hífen?
Todos eles se foram?
Muitos não sabem nem usar o ÃO e o AM.
imagina como estava a vida dessas pontuações.
aposentaram-se
ou aposentaram-nas?
estavam dificultando a vida de muitas pessoas
(foi o que ouvi por ai)
então simplesmente, demitiram-nas.
não se importaram com as idÉias nem com as famÍlias
muito menos em apazigÜar os problemas mais importantes ao invés de se meterem na vida dos acentos

É aqui

Esse é meu canto
foi aqui que tudo continuou
é aqui onde me escondo
onde na verdade
deixo de ser um dos eus que sou.
Quando chego aqui
abro a porta
ascendo meu isqueiro
pego meu cinzeiro
abro um vinho
-ou minha vodca-
e fico a vontade.
sentado no chão
com meu cigarro na mão
ouvindo uma canção
ou apenas delirando.
aqui meu mundo se fecha
e nada nem ninguem me importa
ou talvez importe tanto que acaba
parando aqui.