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Ela carregava em seu pescoço
um fio de arame farpado
ela passava um esfregão de pregos nos lábios
enrolava caramujos em seus cabelos
e caminhava como se nada devesse a ninguém.
sua cara estava toda manchada
a maquiagem velha, escorria, deixava rastros
enquanto ela caminhava,
enquanto ela corria,
ela tentava comprar seus medos
vendendo sorrisos
ela tentava trocar suas lágrimas
por um pouco de companhia.
sentou-se na esquina,
catou a guimba de cigarro que estava jogada na sarjeta
usou um daqueles fósforos que se acende arrastando em qualquer superfície
me aproximei
estendi minha mão a ela
lhe ofereci o que eu bebia
o cara do bar disse que era um legítimo whisky escocês
custou-me 0,50 a dose
ela me sorriu com aquela boca manchada de batom vagabundo
dentes amarelados
e nenhuma ruga se formou em seu rosto
dei as costas e fui embora
deixei-a sendo feliz com seu próprio escambo

ela tenta...
trocar sorrisos, lágrimas, comprar seus medos, vender seus sonhos e eu so tinha um legítimo whisky escocês.